domingo, 13 de maio de 2012

O veneno da mostarda

O veneno está no meu corpo, e eu o sorvo e o degluto e o absorvo, absorta no cálice que viaja através de meu sangue, e eu sobrevivo porque sou auto-imune, produzo meu próprio soro do meu próprio veneno, e no inverno ameno não neva mas a gente injeta (com seringa) veneno nos flocos de neve.

1 floco + 1 floco + 1 floco + ... + 1 floco é igual a uma pequena bola de neve que se apalpa com as mãos, modelando-a para fazer um boneco inexpressivo com olhos de tomate, nariz de berinjela e dentes de grãos de milho, que os corvos sorvem como se sorvessem a última gota de mostarda, envenenada como toda boa mostarda, mas não picante como as pimentas, porque o picante das mostardas é suave como gotas de chuva escorrendo na janela.

Eu sobrevivo mas não tenho mais capacetes para me proteger das pedradas e das bolas de fogo que amarelam nas pontas, é tudo como se fosse hoje e o solstício espera cantando, porque os sonhos são feitos de nuvens e as calotas polares se regeneram rapidamente feito folhas secas e rabo de lagartixa, que você pode cortar com a faca e remendar com durepox, mas com cuidado para os camaleões não rugirem, porque eles escapam das cavernas.

Eles escapam.

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